O PRIVILÉGIO BRANCO, AO VIVO E EM CORES de Lola Aronovich.
Quando finalmente nos damos conta dos nossos privilégios, podemos começar a entender os desafios que pessoas sem esses privilégios têm. Na sociedade em que vivemos, os maiores privilegiados são homens brancos e héteros. Isso não quer dizer que a vida seja um mar de rosa pra eles, só que será bem menos difícil.
Logicamente, por ser mulher, falar de privilégio masculino é infinitamente mais fácil pra mim. Desde que pensei nas vantagens de ser homem, venho querendo abordar outros tipos de privilégios, como o privilégio branco e o heterossexual. Pra mim é muito mais complicado pensar nisso porque faço parte de grupos favorecidos ― afinal, sou branca e hétero. Eu tenho que me colocar muito na cabeça de um negro e de um homossexual para tentar entender o que eu tenho de graça, e o que lhes é negado. E isso não é fácil de fazer. Mas eu tentei. Semana que vem falo de privilégio hétero. Agora, cito uns exemplos de privilégio branco (o termo é muito mais conhecido em inglês: white privilege. Aqui, um ativista branco pró-negros fala em inglês de como foram seus encontros com a polícia quando ele era jovem. Pense como seriam se ele fosse negro. Aqui, o Alex fez uma série sobre privilégio. Eu tenho o privilégio das comentaristas do bloguinho serem mais perspicazes que os comentaristas dele). Por favor, ajude. Tenho certeza absoluta que a lista está incompleta. Mas é um comecinho. Preste atenção em algumas vantagens que temos apenas por nascermos com a “cor certa”. A primeira é nem precisar pensar duas vezes pra decifrar qual cor é considerada a certa na nossa sociedade. Portanto, privilégio branco é:
v Ninguém mudar de calçada ao me ver.
v É não me confundirem com o garçom/atendente/serviçal.
v É ter muito menos chance de ir pra cadeia.
v A primeira coisa que as pessoas reparam em mim não é a minha cor.
v Se um vizinho me vir pulando o muro da minha casa, porque esqueci a minha chave, ele provavelmente irá me ajudar, e não chamar a polícia.
v É poder usar o elevador que quiser sem que ninguém me olhe feio.
v Quando eu entro num supermercado ou numa loja, os seguranças não ficam de olho em mim.
v Se eu faço alguma coisa errada, as pessoas vão julgar que esse foi um erro individual, não um erro do meu grupo.
v A polícia não vai me parar a toda hora por eu ser um suspeito em potencial.
v É receber um salário mais alto que meu colega negro, ainda que desempenhando a mesma função.
v Meu cabelo é considerado sempre bom, mesmo quando eu estou num “bad hair day”.
v Posso dirigir um carrão que ninguém vai achar que eu o roubei.
v Numa faculdade, as pessoas vão achar que estou lá porque estudei muito e mereci entrar, não porque uma lei me beneficiou.
v As pessoas não me descrevem apenas pela minha cor.
v Não tenho que fazer cirurgia plástica no meu nariz pra ele ser considerado adequado.
v Vou viver mais: minha expectativa de vida é maior que a de um negro.
v As pessoas que aparecem na TV e nos filmes são da minha cor.
v O padrão de beleza começa por ser branco (pelo menos essa vantagem eu já tenho).
v Quando eu era criança e brincava de boneca, as bonecas eram da minha cor.
v Cresci ouvindo que tudo que é branco é bom, e tudo que é preto é ruim. Isso afeta a minha auto-estima.
v Raramente a família de alguém vai se opor a me ter como genro ou nora.
v Tenho muito mais chance de ingressar numa faculdade por ser branco (sim, apesar das cotas. É só ver as estatísticas. Por que as cotas foram criadas? Não pra atazanar a minha vida, mas porque há tão poucos negros nas universidades).
v Meus antepassados não foram escravizados (no caso dos negros) ou varridos da face da Terra (no caso dos índios).
v Tenho muito mais chance de me tornar um professor universitário.
v Pra eu ser preso, terei que cometer um crime hediondo.
v A maquiagem produzida pela indústria é feita pra pessoas da minha cor.
v Não associam a minha religião à macumba (esse é tema de outro privilégio, o religioso).
v Muitos defeitos meus são perdoados por causa da minha cor.
v Eu não pareço ameaçador para outras pessoas.
v Posso parar uma pessoa na rua para pedir informações sem que ela ache que vou assaltá-la.
v As pessoas que me avaliam geralmente são da minha cor.
v Numa entrevista de emprego, o entrevistador quase sempre é branco.
v Numa banca de defesa de monografia/mestrado/doutorado, os membros são quase todos da minha cor.
v Nunca parei para pensar como pessoas da minha cor oprimiram pessoas de outras cores ao longo da história.
v Ninguém se nega a sentar do meu lado no ônibus.
v Na hora de alugar um apartamento, o dono do apê é branquinho como eu.
v Quando vejo comerciais ou programas sobre a minha cidade, todo mundo é da minha cor.
v As pessoas nunca associam a minha cor ao meu cheiro.
v Todos os heróis da minha pátria são brancos.
v Os escritores que fazem parte da grade curricular da minha escola/faculdade são quase todos brancos.
v Eu não sou responsável pelo que meus antepassados brancos fizeram contra os negros, mas os negros de hoje são responsáveis pelo que seus antepassados negros fizeram contra sua própria raça.
v É ver meus gostos pintados como universais e naturais.
v É não ser comparado com macaco.
v Serei ouvido se quiser reclamar de alguma coisa.
v Quando me junto com outras pessoas da minha cor, raramente somos considerados uma gangue.
v Na adolescência, não fui chutado e espancado por policiais.
v Eu posso ser preguiçoso e não gostar de trabalhar sem que associem isso a minha cor.
v Se eu tiver uma arma, vai ser pra autodefesa, não pra matar alguém.
v Quase todos os ministros, juízes e congressistas que me representam são brancos.
v O meu Deus me fez a sua imagem e semelhança. Até o filho Dele é da minha cor.
v Eu posso pintar a minha casa de amarelo brilhante sem que meus vizinhos critiquem a minha escolha, dizendo ser “coisa de branco”.
v Todos os presidentes do meu país (o cargo mais alto a que alguém pode aspirar) foram da minha cor.
v Eu não preciso me superar pra me destacar no trabalho ou nos estudos.
v Quando cometo um erro, ninguém acha que o cometi por ser branco.
v As piadas que ouço não giram em torno da minha cor.
v É poder acreditar que todas as minhas conquistas são baseadas no meu mérito, e não no meu privilégio racial.
v Aliás, eu nunca nem tinha parado pra pensar nesse tal de privilégio branco. Só pode ser coisa de preto!
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