sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Brincadeiras e interações nas práticas pedagógicas e nas experiências infantis - Parte 2 - Linguagens e Formas de Expressão

Linguagens e Formas de Expressão

    As crianças expressam significações quando brincam: com gestos, falam, desenham, imitam, cantam ou constroem estruturas tridimensionais. São tais ações que se denominam formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical. No interior dessas formas de expressão se encontram diferentes modalidades de linguagem e gêneros textuais: falar, escrever cartas, contos de fadas, contos fantásticos etc.

Expressão Gestual e Verbal


    As crianças comunicam-se por diferentes linguagens, por gestos, expressões, olhares, pela palavra. Os bebês se expressam inicialmente por gestos e sorrisos e, depois, pelas palavras.

    O aprendizado da fala (linguagem verbal) se inicia no nascimento com a comunicação entre as crianças e seus pais em casa e, depois, entre a professora e a criança ou entre as crianças na creche. Há diversos estilos de comunicação familiar que levam as crianças a aprenderem a falar e que fazem parte de suas
culturas quando ingressam na creche.
    A comunicação na creche, que valoriza as interações e a brincadeira, acontece em diversos momentos:
* quando a professora conversa com o bebê e ele responde com um gesto, olhar ou sorriso;
* nas brincadeiras, ao relacionar nomes dos objetos e situações do seu cotidiano;
* nas brincadeiras corporais de exploração dos objetos do ambiente;
* nas brincadeiras de imitação;
* nas danças e nas músicas;
* nos desenhos e grafismos;
* nas comunicações cotidianas e no recontar histórias;
* na expressão de poesias, parlendas, adivinhas, cantigas de roda e de ninar.

Expressão Dramática


    A expressão dramática começa a surgir quando as crianças manifestam o desejo de assumir papéis, como os de motorista, mãe, professora. Quando entram no faz-de-conta compreendem as funções desses personagens na sociedade: do motorista que dirige carros, da professora que educa as crianças ou da mãe que dá comida para o bebê. As imitações anteriores, embora importantes, são repetições de ações observadas pelas crianças sem a compreensão do significado dos papéis desempenhados. A dramatização de situações imaginárias tanto nas brincadeiras de faz-de-conta como no recontar histórias deve ser livre para que as crianças possam expressar suas emoções e seus desejos. Nessa atividade, a variedade de acessórios, como bonecas de diversos tipos, berço, carrinho, caminhões de diferentes tipos – cegonha, caçamba, bombeiro, posto de gasolina, fantoches, bichinhos e kit médico auxiliam a representação de papéis, ampliando o repertório das brincadeiras.



Expressão Plástica

    Atividades relacionadas às artes plásticas incluem brincar com tinta ou utilizar-se da natureza para fazer tintas – com plantas, com terra –, possibilitando tanto experiências sensoriais e prazerosas quanto plásticas.      Brincadeiras com cores iniciam-se com a exploração das tintas com as mãos, com o corpo, com pinceis,
mas ganham em qualidade ao saber misturá-las e recriá-las.
    Para iniciar atividades relacionadas às artes plásticas para as crianças pequenas de creches, convém introduzir primeiro a brincadeira livre de explorar tintas, de sentir a sensação de pintar as mãos, o corpo, o papel, de misturar tintas e utilizá-las em diferentes tipos de papéis, superfícies e objetos pequenos e grandes. Com as crianças maiores, avançar em projetos relacionados à construção de uma paleta de cores - o conjunto de cores de uma determinada obra, seja ela pintura, escultura ou desenho.
    Para as maiores da pré-escola, em uma atividade ligada à construção de cores a partir de elementos da natureza, pode-se oferecer inicialmente uma paleta com tons marrons, terras e verdes.
    Em uma atividade plástica ligada a pintura de flores, pode-se oferecer outro conjunto com tons roxos, rosas, branco, verdes, azuis e laranjas. A paleta de cores é uma combinação inicial que visa oferecer suporte às crianças em atividades plásticas que buscam aprimorar os conceitos de arte e estética.
    Um brincar de qualidade inclui a experiência com a arte, as atividades plásticas e o uso de cores como suporte prévio para que as crianças encontrem prazer e reconheçam na sua produção artística uma estética e uma beleza próprias. As diversas técnicas voltadas para os trabalhos plásticos (argila, pintura, colagem etc.) requerem materiais apropriados.
    Crianças gostam de fazer marcas para expressar sua individualidade e as tintas, nas artes plásticas, são ferramentas que cumprem essa finalidade. Brincar com massinhas, argila, gesso ou materiais de desenho, pintar, fazer colagens e construções com diferentes objetos, são linguagens plásticas associadas a experiências sociais, motoras e sensoriais prazerosas. Entretanto, é preciso dispor de grande quantidade de massinha e argila para que as crianças possam construir seus projetos (cerca de um quilo para cada uma).
    Uma quantidade pequena só possibilita a manipulação e não a modelagem das formas que expressam a imaginação, os desejos e as intenções de cada criança. A manipulação é importante no início, mas deve ser seguida de inúmeras oportunidades para dar forma aos propósitos da própria criança, o que só é possível com uma boa quantidade de argila.
    O desenvolvimento do imaginário está relacionado com a oferta cotidiana de práticas que ofereçam suporte para que as crianças possam realizar suas recriações. Ver diferentes tipos de esculturas, dispor de técnicas para compreender como se faz a modelagem e ter materiais à disposição para uso independente, são práticas necessárias que auxiliam a expressão criativa. Para valorizar a autonomia das crianças, é necessário dispor de tempo e materiais em quantidade suficiente para que elas escolham estes materiais e as técnicas adequadas à produção do que desejam para suas expressões, quer seja no desenho, no gesto ou na modelagem.


Expressão Musical

    A música é essencial para a formação do ser humano. Auxilia o desenvolvimento do raciocínio lógico, traz envolvimento emocional e é instrumento de interação. Brincadeiras de experimentar diferentes sons e instrumentos musicais contribuem para o desenvolvimento da linguagem e a formação integral das crianças.
    Ouvir e produzir sons, altos, baixos, acompanhados de movimentos e uso de recursos da natureza, do corpo, dos objetos e materiais diversos, assim como o conhecimento da diversidade de músicas infantis ampliam as experiências das crianças.

* Brincar de cantar palavras, como o nome das crianças, em diferentes ritmos e alturas, traz envolvimento afetivo e propicia interações.
* Transformar conversas com crianças pequenas em momentos de musicalização cria um clima de afetividade, de prazer partilhado e de encantamento. Ao falar com a criança, por exemplo: “Vamos tomar banho”, cantar essa frase utilizando uma melodia conhecida. Tanto a palavra como a frase, que fazem parte da conversação diária, podem ser cantadas para que a criança entre em contato com a linguagem musical.
* Brincar com a voz, em repetição de sons, como o “ba, ba, ba” que o bebê balbucia, com o uso de estruturas melódicas, mas sem as letras das músicas, proporcionam experiências prazerosas e contribuem para a musicalização.
* Encontrar um tempo na rotina diária para transformar a “conversa com a criança” em um “musical”. A criança maior já utiliza a estrutura de uma cantiga ou parlenda para criar novas músicas ou até contar histórias.
* Para estreitar os vínculos entre a família e a creche e dar continuidade às experiências anteriores das crianças, aproveitar a cultura musical que elas já trazem de casa para valorizar suas identidades culturais para, depois, acrescentar novos tipos de músicas que enriqueçam seus repertórios.
* Os brinquedos musicais de berço ou de manipulação para a produção de diferentes sons, ritmos melódicos contribuem não só para a musicalização, mas para a expressão das diferentes linguagens infantis.
Pode-se criar sons batendo com uma colher de pau em panelas enfileiradas, batendo duas tampas de panelas ou tocos de madeira ao ritmo das músicas , falar ou criar sons dentro de tubos e caixas.
* Os bebês se divertem ouvindo os sons do despertador ou batendo em sinos e objetos pendurados que produzem sons. Pode-se criar um ambiente de exploração ao pendurar muitas tiras de papel laminado ou
celofane colorido no teto, na altura das crianças, para que elas possam tocar e criar sons.
* Cantar músicas, recitar parlendas, ouvir histórias cantadas são recursos importantes para todas as crianças.
* Recolher as cantigas que as mães cantam para os seus filhos e cantar para as crianças. O repertório individual torna-se coletivo, atende à diversidade cultural e traz identidade às crianças.

Fonte: Brincadeiras e brinquedos em creches (Manual de orientação pedagógica) elaborado por Tizuko Kishimoto e Adriana Freyberger. Brasília, 2012.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Brincadeiras e interações nas práticas pedagógicas e nas experiências infantis - Parte 1 - Conhecimento de mundo


     As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil, de 2009, indicam que: "as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação infantil devem ter como eixos norteadores: as interações e a brincadeira, as quais devem ser observadas, registradas e avaliadas".
     Para iniciar a análise, é preciso pensar no significado de Interação: ação que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas, ou duas ou mais pessoas; ação recíproca. (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).
     Na educação infantil, sob a ótica das crianças, ocorrem interações entre:
* as crianças e as professoras/adultos - essenciais para dar riqueza e complexidade às brincadeiras;
* as crianças entre si - a cultura lúdica ou a cultura infantil só acontece quando as crianças brincam entre si, com idades iguais ou diferentes (maiores com bebês, crianças pequenas com as maiores);
* as crianças e os brinquedos - por meio das diferentes formas de brincar com os objetos/brinquedos;
* as crianças e o ambiente - a organização do ambiente facilita ou dificulta a ação de brincar. Uma estante na altura do olhar das crianças facilita o uso independente dos brinquedos. Um escorregador alto no parque,
além do risco oferecido ao uso pelos pequenos, leva a uma situação de estresse no grupo quando a professora proíbe utilizá-lo.

* as crianças, as instituições e as famílias - tais relações possibilitam vínculos que favorecem um clima de respeito mútuo e confiabilidade, gerando espaços para o trabalho colaborativo e a identificação da
cultura popular da criança e de sua família, de suas brincadeiras e brinquedos preferidos.


As práticas pedagógicas devem garantir experiências diversas que contemplem os 12 itens que serão a seguir especificados:

Conhecimento de Mundo:

* Experiência corporal - ver-se diante de um espelho favorece ao bebê o conhecimento de si mesmo e o leva a se identificar como distinto de outras crianças e dos objetos.

* Experiência com cores - o conhecimento de si próprio pode ser experimentado pela imersão no universo das cores, através das sensações produzidas por folhas de celofane coloridas, que se penduram em varais
Cortinas coloridas com aplicação de chocalhos e outros objetos sonoros também proporcionam aos bebês a descoberta de sons na relação com o corpo. O toque, a investigação e a curiosidade são formas de aquisição de conhecimento de si mesmo e do mundo que os cerca.
* Experiências corporais e afetivas - o adulto, ao pegar a criança no colo, troca olhares, sorrisos e oferece um clima afetivo e de bem-estar criando oportunidade para as primeiras descobertas; massagens no corpo e ambientes planejados com materiais diversos proporcionam novas experiências; brincadeiras corporais propiciam desafios motores, como subir em almofadas, pegar um brinquedo colocado a certa distância, ou pegar vários materiais com as mãos; tocar seu próprio corpo, brincar com as mãos, pés e dedos.

* Exploração e conhecimento do mundo - as experiências motoras (corporais), possibilitam posicionar o corpo para a exploração dos objetos, de subir em almofadas ou entrar em um buraco, ações que favorecem o conhecimento do mundo. Ao colocar o brinquedo na boca, as crianças sentem sua textura, conseguem
diferenciar algo que é mole ou duro, mas tais características ainda estão no plano da experiência vivida, seu pensamento ainda não consegue conceituar. Essas experiências constituem as bases para que mais tarde possam compreender os conceitos. Tapetes com diferentes texturas e cores ou objetos que podem ser explorados, trazem experiências significativas para os bebês. Estruturas com materiais pendurados de diferentes cores, tamanhos e texturas que, ao serem puxados pelas mãos ou pés dos bebês, emitem sons e permitem que eles decidam sobre o que querem fazer – balanças, puxar, ver e ouvir.

* As experiências expressivas – entre as brincadeiras interativas que levam o bebê a se expressar, é muito conhecida a de “esconder-e-achar” com fralda, dizendo “cucu”, “escondeu”, “achou”. Essa brincadeira ajuda a criança a aprender os significados dos movimentos, regras e a expressão da linguagem oral e dos gestos. Mas somente quando o bebê inicia a brincadeira e a conduz, escolhendo se vai esconder a si mesmo, ou seu bichinho de estimação, há aprendizagem e desenvolvimento cognitivo. Nesse momento, ele teve agência (decisão própria). Essa forma de brincar para esconder outros objetos desperta a curiosidade e o prazer – da descoberta, da repetição e recriação da ação. Há muitos brinquedos em que se colocam bolinhas dentro de estruturas com túneis que possibilitam a expressão do prazer do “desaparecer” e “reaparecer”. Brincadeiras de adultos e crianças de esconder objetos embaixo de almofadas ou copinhos, além de divertirem as crianças que procuram encontrá-los, criam desafios para as mentes infantis em desenvolvimento.

Fonte: Brincadeiras e brinquedos em creches (Manual de orientação pedagógica) elaborado por Tizuko Kishimoto e Adriana Freyberger. Brasília, 2012.






segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Reflexão para os pais

ORAÇÃO DA CRIANÇA ELETRÔNICA

Papai do céu,
Não quero te pedir nada de especial nem fora do alcance, como fazem tantas crianças em sua oração da noite.
A Ti, que és bom e protege todas as crianças da terra, venho pedir um grande favor, sem que meus pais fiquem sabendo: transforma-me em um televisor, para que eles cuidem de mim como cuidam da sua TV, e que me olhem com o mesmo interesse com que mamãe assiste à sua novela preferida, ou papai ao jogo de futebol.
Eu quero falar como certos animadores que, quando se apresentam, fazem minha família se calar para os ouvir com atenção e sem nenhuma interrupção.
Ah! Papai do Céu, como eu gostaria de ver minha mãe suspirar diante de mim, como faz quando assiste a desfiles de moda, ou de fazer rir meu pai, tal como o conseguem o Jô e outros humoristas, ou simplesmente que acreditassem em mim quando lhes conto minhas histórias, sem precisar dizer: “É verdade! Eu vi na TV!”
Quero me transformar num televisor para ser o rei da casa, o centro das atenções, ocupando o melhor lugar, para que todos os olhares se voltem para mim.
Quero sentir sobre mim a preocupação que têm meus pais quando surge um defeito no televisor, chamando logo um técnico para o concertar ...
Quero ser um televisor para me tornar o melhor amigo de meus pais, o que mais influi em suas vidas, para que se lembrem de que sou filho e aquele que, afinal, lhes mostrará mais a paz que a violência.
Papai do Céu, por favor, deixe-me ser um televisor ao menos um dia de minha vida!


(Adaptado de “Informativo NOTIMOVIL”, Buenos Aires, setembro/97).

A importância da reunião de pais e mestres

      Reunião de pais é um importante instrumento de aproximação entre a família do aluno e a escola. “Não é o único e tão pouco o mais importante dos instrumentos, mas pode ser fundamental para que os pais se aprimorem como educadores dos filhos e compartilhem com os professores e com outros pais, as dificuldades, desafios e soluções da educação”.
      A importância das reuniões entre pais e mestres está ligada diretamente ao projeto educativo que a escola adota. Se o trabalho ficar restrito aos conteúdos formais, os professores podem simplesmente prestar conta aos pais do que ensinaram para as crianças. Porém, se o trabalho for mais amplo, as reuniões assumem um outro sentido e podem ter outros objetivos também. Portanto, as reuniões revelam como o projeto adotado pela escola pensa a educação. “No caso de um ensino voltado só para a aprendizagem de conteúdos das disciplinas formais, o pai vai à escola simplesmente para saber o que os filhos aprenderam e a escola se organizará apenas para mostrar o quanto ensinou. Os pais podem entender que seu papel se restringe à cobrança da aplicação do currículo, do conteúdo das disciplinas”.
      Por outro lado, quando o projeto é mais amplo, preocupado com a formação de cidadãos, o encontro entre os professores e os pais também é mais amplo. E as reuniões se tornam momentos em que pais e mestres podem realmente assumir uma parceria na educação das crianças. A equipe pedagógica da escola tem pontos de vista comuns com os das famílias no que diz respeito à educação. A troca de experiências é fundamental. A parceria entre pais e escola, quando está afinada, pode contribuir para a formação cidadã dos alunos e solidificar a construção dos conhecimentos. “Estabelecendo um objetivo comum, em casa e na escola, de formar pessoas melhores para a sociedade”, Os professores podem estreitar as relações com a família através de bilhetes enviados para casa explicando as tarefas solicitadas aos alunos. “É importante o pedido para que os pais participem do processo educativo dos filhos. Quando são convidados para uma reunião, os pais devem sentir prazer em participar. Não se trata dos professores serem amigos dos pais, mas de conseguirem deixar clara a importância da participação. Para, com isso, gerar uma empatia educativa.”
      O primeiro passo para chegar nessa cumplicidade é tomar cuidado para que os pais não se sintam obrigados a ir às reuniões. “Hoje, por exemplo, usa-se como recurso desenvolver uma atividade em aula com os alunos para que seja entregue para os pais durante a reunião. Assim as crianças exercem uma pressão para que os pais compareçam. Mas essa estratégia pode atuar contra, porque os pais se sentem obrigados e pressionados a ir até a escola.”
      As reuniões devem acontecer preferencialmente no período noturno, devem ser sucintas, com uma pauta clara, que explicite os assuntos que serão abordados e que precisa ser enviada às famílias com antecedência. “Dessa forma, os pais sabem o que o professor quer realmente conversar com eles.”
      Deve-se estabelecer um diálogo franco entre os pais e professores dos alunos. Os pais precisam entender que ao ir à reunião eles ouvirão os professores e também outros pais que muitas vezes passam pelos mesmos momentos e dificuldades educacionais que eles. A reunião precisa se tornar um espaço de convívio entre os diferentes educadores (os responsáveis devem ser vistos como educadores) onde são tratados assuntos comuns a todos eles. “Não pode ser apenas os professores contando para os pais o que fizeram.” Segundo a educadora, os professores devem pedir para os pais sugestões de temas para serem abordados nas reuniões. É importante que outros membros da equipe pedagógica participem das reuniões. “Coordenador, orientador ou a própria direção”.
      Ela argumentou que esse educador pode servir como mediador entre pais e professores em situações de desconforto, quando, por exemplo, algum pai venha a questionar a permanência na classe de uma criança com dificuldade de aprendizagem ou muito indisciplinada. “A relação entre pais e professores tem uma intimidade que deve ser preservada e quando há questionamentos é interessante haver alguém que retire a questão do fórum de debates e dê espaço para os pais falarem ou até criticarem as posturas da escola de uma forma mais individualizada.”
      De acordo com a educadora, os pais são atraídos para a escola quando percebem que têm voz ativa, que são ouvidos pela equipe e que há retorno para as dicas e queixas deles. Sobre o contrato didático firmado entre o professor e seus alunos, no qual os educadores se comprometem a ensinar, a participação dos pais é de ajudar no bom andamento dessa relação. “Os pais são co-responsáveis pela educação dos seus filhos. Se acham que a escola não vai bem, precisam ajudar a melhorá-la e a reunião pode ser fundamental para os pais se aprimorarem como educadores dos filhos”.
      REFLEXÃO SOBRE O TEMA Hoje se prega que a escola se transforme, saia do cenário transmissivo para o de comunidade de aprendizagem, onde professores e alunos têm coisas a aprender e a ensinar. Isso exige um modelo diferente de ensino. O objetivo não é que apenas os professores ensinem e os alunos aprendam, mas que toda a comunidade educativa – professores, pais e alunos – participe do processo de aprendizagem, estabelecendo uma nova relação entre a escola e a família.
      Formar uma comunidade de aprendizagem exige que todos os envolvidos sejam informados sobre os caminhos que estão sendo trilhados. Exige compromisso, confiança, vínculo. E o vínculo é construído pelo conhecimento. Cada vez mais é necessário que a escola crie espaços de socialização e discussão sobre o trabalho realizado. Saindo da concepção de apresentação para a de construção. 
      O desafio é fazer uma escola bem relacionada com as famílias dos alunos; não apenas trazer os pais para a escola, mas fazer com que eles entendam a escola de seus filhos. A reunião de pais pode ser um dos momentos para isso. Escolheram aquele lugar. Mesmo no ensino público. Portanto, devem se apropriar dessa escolha e participar do projeto desenvolvido ali. Um projeto educacional não é só da escola, é do país. “Os pais precisam tomar consciência de que os filhos deles estão dentro deste projeto e que, portanto, como responsáveis pelas crianças, devem acompanhar o processo educacional e não só vigiar.” os professores, por seu lado, precisam compreender bem a realidade do entorno da escola para ajudar os pais a ser parceiros das famílias dos estudantes. há professores que consideram os pais ausentes na educação dos filhos, pois delegam à escola toda a obrigação da educação. Ela afirmou que, diante do cenário e exigências de trabalho atuais, realmente é difícil para pais, avós e responsáveis encontrarem tempo para a educação dos filhos. “Não é que eles não amem as crianças; mas sim, que precisam trabalhar para sustentar a família”.
      Nesse contexto, os professores precisam ser compreensivos e tentar restabelecer a relação entre a casa e a escola e aproximar os pais, dentro das possibilidades de tempo que eles disponham, da educação de seus filhos. é promover projetos com os alunos que envolvam os pais. Uma sugestão é planejar projetos em que sejam solicitados fotos e objetos antigos da família, bem como que os familiares e responsáveis ensinem brincadeiras antigas e até mesmo receitas tradicionais para os estudantes levarem para a aula. O envolvimento dos pais com certeza será gratificante e os aproximará não apenas da escola como também de outros pais e toda comunidade.
      Esse é o caminho que deve ser trilhado também nas reuniões. Os pais devem ser chamados para ajudar na escola. A reunião de pais sozinha não faz a qualidade da relação entre família e escola”. Os pais precisam ter consciência de seu papel na complementação da educação dos filhos, da parte que têm na formação das crianças. E que ao encontrarem dificuldades, há alguém na escola para conversar com eles, para tirar suas dúvidas, conversar com eles sobre comportamento, atitudes; enfim, que podem pedir ajuda para a escola. “A reunião serve para divulgar tudo isso.”
      O trabalho junto aos pais ou responsáveis pelos alunos é considerado de suma importância para todo o processo pedagógico vivenciado nas unidades escolares. Para tanto, é necessário que se organize uma diversidade de atividades que envolvem direta e indiretamente as famílias dos alunos. Os pais devem participar de algumas aulas dependendo do projeto desencadeado, organizando jogos, trazendo relatos culturais e diferentes informações que são trabalhadas nas atividades escolares. As reuniões de pais devem ser bimestrais e os pais, além das reuniões organizadas no calendário escolar, participem também de palestras de interesse da comunidade em geral e da escola. Onde é trabalhada a relação entre pais e filhos, as questões de saúde e de educação, entre outros temas.
publicado em 27/11/2009.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Parâmetros Básicos de Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil

Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil - Volume 2

Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil - Volume 1

Parâmetros básicos de infra-estrutura para instituições de educação infantil - Encarte 1

Indicadores de qualidade na educação infantil

Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças

Carta da Terra para crianças

Presença da música na educação infantil: ideias e práticas correntes

       A música no contexto da educação infantil vem, ao longo de sua história, atendendo a vários objetivos, alguns dos quais alheios às questões próprias dessa linguagem. Tem sido, em muitos casos, suporte para atender a vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, escovar os dentes, respeitar o farol etc.; a realização de comemorações relativas ao calendário de eventos do ano letivo simbolizados no dia da árvore, dia do soldado, dia das mães etc.; a memorização de conteúdos relativos a números, letras do alfabeto, cores etc., traduzidos em canções. Constata-se uma defasagem entre o trabalho realizado na área de Música e nas demais áreas do conhecimento, evidenciada pela realização de atividades de reprodução e imitação em detrimento de atividades voltadas à criação e à elaboração musical.
      A música está presente em diversas situações da vida humana. Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo e assim começam a aprender suas tradições musicais. Compreende-se a música como linguagem e forma de conhecimento. Exemplos: “Eu com as quatro”, “No velho Oeste”, “Fui à China” etc. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da auto-estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social.
 

A CRIANÇA E A MÚSICA
 
      O ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês e crianças iniciem seu processo de musicalização de forma intuitiva. Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês ampliam os modos de expressão musical pelas conquistas vocais e corporais. A expressão musical das crianças nessa fase é caracterizada pela ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo e pela exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros. As crianças integram a música às demais brincadeiras e jogos: cantam enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo “personalidade” e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua produção musical.
      Os conteúdos podem ser tratados em contextos que incluem a reflexão sobre aspectos referentes aos elementos da linguagem musical. A presença do silêncio como elemento complementar ao som é essencial à organização musical. Ouvir e classificar os sons quanto à altura, valendo-se das vozes dos animais, dos objetos e máquinas, dos instrumentos musicais, comparando, estabelecendo relações e, principalmente, lidando com essas informações em contextos de realizações musicais pode acrescentar, enriquecer e transformar a experiência musical das crianças.
      A simples discriminação auditiva de sons graves ou agudos, curtos ou longos, fracos ou fortes, em situações descontextualizadas do ponto de vista musical, pouco acrescenta à experiência das crianças.
      Em princípio, todos os instrumentos musicais podem ser utilizados no trabalho com a criança pequena, procurando valorizar aqueles presentes nas diferentes regiões, assim como aqueles construídos pelas crianças. Deve-se promover o crescimento e a transformação do trabalho a partir do que as crianças podem realizar com os instrumentos.
      Os jogos de improvisação podem, também, ser realizados com materiais variados, como os instrumentos confeccionados pelas crianças, os materiais disponíveis que produzem sons, os sons do corpo, a voz etc. O professor poderá aproveitar situações de interesse do grupo, transformando-as em improvisações musicais. Poderá, por exemplo, explorar os timbres de elementos ligados a um projeto sobre o fundo do mar (a água do mar em seus diferentes momentos, os diversos peixes, as baleias, os tubarões, as tartarugas etc.), lidando com a questão da organização do material sonoro no tempo e no espaço e permitindo que as crianças se aproximem do conceito da forma (a estrutura que resulta do modo de organizar os materiais sonoros).
      Deverão ser propostos, também, jogos de improvisação que estimulem a memória auditiva e musical, assim como a percepção da direção do som no espaço. O professor deve observar o que e como cantam as crianças, tentando aproximar-se, ao máximo, de sua intenção musical. Neste caso, após a fase de definição dos materiais, a interpretação do trabalho poderá guiar-se pelas imagens do livro, que funcionará como uma partitura musical. Os contos de fadas, a produção literária infantil, assim como as criações do grupo são ótimos materiais para o desenvolvimento dessa atividade que poderá utilizar-se de sons vocais, corporais, produzidos por objetos do ambiente, brinquedos sonoros e instrumentos musicais.
 
A criança e a música – 0 a 3 anos
 
      Os bebês ampliam os modos de expressão musical pelas conquistas vocais e corporais. Podem articular e entoar um maior número de sons, inclusive os da língua materna, reproduzindo letras simples, refrões, onomatopéias etc. explorando gestos sonoros, como bater palmas, pernas, pés, especialmente depois de conquistada a marcha, a capacidade de correr, pular e movimentar-se acompanhando com a música.
      A expressão musical das crianças nessa fase é caracterizada pela ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo e pela exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros. As crianças integram a música as demais brincadeiras e jogos: cantam enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam as situações sonoras diversas conferindo “personalidade”e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e a sua produção musical.
 
Objetivos:
 
      O trabalho com a Música deve se organizar de forma a que as crianças desenvolvam as
seguintes capacidades:
* Ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais;
* Brincar com a música, imitar, inventar e reproduzir canções musicais.
 
O fazer musical:
* Exploração, expressão e produção do silêncio e de sons com a voz, o entorno e materiais sonoros diversos.
* Interpretação de música e canções diversas.
* Participação em brincadeiras e jogos cantados e rítmicos.
 
Orientações Didáticas:
 
      No primeiro ano de vida, a prática musical poderá ocorrer por meio de atividades lúdicas. O professor estará contribuindo para o desenvolvimento da percepção e atenção dos bebês quando canta para eles; produz sons vocais diversos por meio da imitação de vozes de animais, ruídos etc. ou sons corporais, como palmas batidas nas pernas, pés, etc., embala-os e dança com eles. As canções de ninar tradicionais, os brinquedos cantados e rítmicos, as rodas e cirandas, os jogos com movimentos, as brincadeiras com palmas e gestos sonoros corporais.
 
Resumindo
 
      Os primeiros anos de aprendizagem são propícios para que a criança comece a entender o que é a linguagem musical, aprenda a ouvir sons e a reconhecer diferenças entre eles. “Todo o trabalho a ser desenvolvido na educação infantil deve buscar a brincadeira musical, aproveitando que existe uma identificação natural da criança com a música. A atividade deve estar muito ligada à descoberta e à criatividade”. (Teca Alencar de Brito, diretora da Escola Oficina de Música e colaboradora do MEC na elaboração dos Referenciais Curriculares de Iniciação Musical) Brincando, as crianças estarão exercitando as habilidades que serão exigidas durante os anos seguintes.
 
Apreciação musical:
 
* Com histórias, fantoches, dramatizações, cativar a criança para que comece a frequentar a aula de música perdendo o medo do novo.
* Usar o carnaval para desenvolver o tema e participar de um baile carnavalesco.
* Introduzir um instrumento musical do carnaval, como o tambor, por exemplo.
* Utilização da flauta para audições instrumentais.
* Socializar através da música.
* Contato inicial com instrumentos de percussão, utilizando-os também como objetos sonoros para emitir respostas musicais, a partir de estímulos dados pelo professor.
* Exploração de alguns instrumentos de pequena percussão como, guizos, chocalhos, caxixis, castanholas, tambores, livremente e mais tarde orientados pelo professor.
* Escutar músicas.
* Intervenções feitas com os instrumentos nas músicas já escutadas anteriormente.
* Introduzir instrumentos nas canções (clavas, tambor, etc.)
 
Desenvolver a coordenação motora:
* Exploração do corpo.
* Percepção das partes do corpo separadamente.
* Vivenciar os movimentos corporais através da música.
*  Exploração do movimento corporal.
 
Desenvolver a memória musical:
* Linguagem oral e vocabulário.
* Cantar canções curtas e de fácil memorização com temas sobre o corpo, como: bater palmas, bater pés, gestos com os dedos, tornozelos, etc.
* Desenvolver a percepção auditiva.
* Capacidade de se concentrar.
* Capacidade de imitar.
* Escutar várias gravações das músicas cantadas.
Exploração da música e da cultura popular:
* Divulgar nossa cultura, conhecer canções e brincadeiras populares.
* Folclore.
* Brincos.
* Cantigas de ninar.
 
Diferenciação de sons:
* Sons: agudos e graves.
* Perceber os sons grossos e finos.
 
Crianças de quatro a seis anos
 
      Escuta de obras musicais de diversos gêneros, estilos, épocas e culturas, da produção musical brasileira e de outros povos e países.
 
Orientações didáticas
 
      Nessa faixa etária, o trabalho com a audição poderá ser mais detalhado, acompanhando a ampliação da capacidade de atenção e concentração das crianças. As canções infantis veiculadas pela mídia, produzidas pela indústria cultural, pouco enriquecem o conhecimento das crianças.
      As crianças podem perceber, sentir e ouvir, deixando-se guiar pela sensibilidade, pela imaginação e pela sensação que a música lhes sugere e comunica. A produção musical de cada região do país é muito rica, de modo que se pode encontrar vasto material para o desenvolvimento do trabalho com as crianças. O contato das crianças com produções musicais diversas deve, também, prepará-las para compreender a linguagem musical como forma de expressão individual e coletiva e como maneira de interpretar o mundo.
 
Resumindo
 
      O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil do MEC recomenda a Iniciação Musical na pré-escola e dá ênfase à escolha do repertório, uma das chances que o professor tem de ampliar a visão (e a audição) de mundo do aluno. A música deve ser de boa qualidade, variando desde MPB, músicas folclóricas, cantigas de roda, regionais, até eruditas. Trabalhar com música na educação infantil melhora a sensibilidade, o raciocínio lógico e a expressão corporal. A música é a linguagem que organiza som e silêncio. A criança vai tomar consciência da linguagem musical se conseguir ouvir e diferenciar sons, ritmos e alturas, saber que um som pode ser grave ou agudo, curto ou longo, forte ou suave.
 
Apreciação musical:
* Instrumentar as músicas e as atividades realizadas no período.
* Os instrumentos musicais que: Mais gostam e que menos gostam.
* Sua utilidade.
* Como e porque construir um instrumento musical.
* O aproveitamento de sucata para isso e sua importância ecológica nesse fazer.
* Perceber e descobrir a importância dos instrumentos musicais para a música.
* Desenvolver o respeito pela natureza através da música.
* Propiciar ambiente e material para criação de alguns instrumentos musicais de fácil execução.
* Favorecer o trabalho em grupo.
* Montar arranjos musicais com os instrumentos construídos.
 
Desenvolver a coordenação motora:
* Usar todas as aulas do período para desenvolver atividades que proponham movimentar o corpo sob vários ritmos e canções.
* Desenvolver a coordenação motora fina.
* Poder se expressar espontaneamente combinando movimento e música.
* Improvisar movimentos/maior desenvoltura na ação para: Desinibir, Socializar.
* Poder se expressar espontaneamente combinando movimento e música.
* Produzir sons com as partes do corpo separadamente, organizando-as numa percussão corporal.
* Descobrir, experimentar, reconhecer e inventar sons com o corpo.
* Movimentos rítmicos.
* Facilitar a ampliação dos movimentos conhecidos.
* Ampliar o respeito pelo outro.
* Introduzir a reflexão musical (analisando, criticando, discutindo em grupo as danças e coreografias montadas).
 
Desenvolver a memória musical:
* Desenvolver a expressão verbal (versos na roda).
* Escutar a si e ao outro.
* Respeitar o outro quando escolhido.
* Respeitar a sequência da brincadeira.
* Desenvolver o pensamento lógico.
* Desenvolver concentração.
* Desenvolver atenção.
 
Exploração da música e da cultura popular:
* As comemorações servem de apoio para o desenvolvimento musical.
* Coletar músicas carnavalescas com as crianças: O que é carnaval? De onde vêm as fantasias, as máscaras, ampliar a marcação do ritmo e pulso, trabalhar pulso da marchinha carnavalesca, relembrar os instrumentos do carnaval introduzindo outros novos, exemplo: a-gô-gô, Baile carnavalesco.
* Resgatar histórias, cantigas, canções e brincadeiras que foram ensinadas por nossas mães, avós, babás e que estão esquecidas.
* Brincadeiras de roda.
* Conversar sobre o folclore e a cultura popular brasileira.
* Escolher um outro país para cantar canções folclóricas de lá.
* Incentivar e desenvolver as brincadeiras de roda usando cantigas folclóricas.
* Pesquisar sobre a origem dos instrumentos.
 
Diferenciação de sons:
* Progredir no controle da voz ampliando sua expressão verbal.
* Conhecimento das qualidades do som, altura do som agudo e grave
* Perceber timbres, representando os movimentos, agrupando e organizando.
* Perceber a diferença entre agudos e graves, desenvolver a linguagem oral através da música.
* Atividades que incentivem as crianças a imitar ruídos (telefone, pingo d’água, unha de gato riscando e arranhando).
* Explorar o som da própria voz (gritando, chorando, sussurrando, murmurando).
* Formar grupos dos sons.
* Introduzir o silêncio.
* Trabalhar o timbre.
 
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O PROFESSOR
 
      Para as crianças nesta faixa etária, os conteúdos relacionados ao fazer musical deverão ser trabalhados em situações lúdicas, fazendo parte do contexto global das atividades. A escuta é uma das ações fundamentais para a construção do conhecimento referente à música. O professor deve procurar ouvir o que dizem e cantam as crianças, a “paisagem sonora” de seu meio ambiente e a diversidade musical existente: o que é transmitido por rádio e TV, as músicas de propaganda, as trilhas sonoras dos filmes, a música do folclore, a música erudita, a música popular, a música de outros povos e culturas. As marcas e lembranças da infância, os jogos, brinquedos e canções significativas da vida do professor, assim como o repertório musical das famílias, vizinhos e amigos das crianças, podem integrar o trabalho com música. É importante desenvolver nas crianças atitudes de respeito e cuidado com os materiais musicais, de valorização da voz humana e do corpo como materiais expressivos.
 
Organização do tempo
 
      Cantar e ouvir músicas podem ocorrer com frequência e de forma permanente nas instituições. Podem ser, também, realizados projetos que integrem vários conhecimentos ligados à produção musical. A construção de instrumentos, por exemplo, pode se constituir em um projeto por meio do qual as crianças poderão: explorar materiais adequados à confecção; desenvolver recursos técnicos para a confecção do instrumento; informar-se sobre a origem e história do instrumento musical em questão; vivenciar e entender questões relativas a acústica e produção do som; fazer música, por meio da improvisação ou composição, no momento em que os instrumentos criados estiverem prontos.
 
Jogos e brincadeiras
 
      A música, na educação infantil mantém forte ligação com o brincar. Em todas as culturas as crianças brincam com a música. Os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil incluem os acalantos (cantigas de ninar); as parlendas (os brincos, as mnemônicas e as parlendas propriamente ditas); as rondas (canções de roda); as adivinhas; os contos; os romances etc. Os acalantos e os chamados brincos são as formas de brincar musical característicos da primeira fase da vida da criança.
      Os jogos sonoro-musicais possibilitam a vivência de questões relacionadas ao som (e suas características), ao silêncio e à música. Jogos de escuta dos sons do ambiente, de brinquedos, de objetos ou instrumentos musicais; jogos de imitação de sons vocais, gestos e sons corporais; jogos de adivinhação nos quais é necessário reconhecer um trecho de canção, de música conhecida, de timbres de instrumentos etc.; jogos de direção sonora para percepção da direção de uma fonte sonora; e jogos de memória, de improvisação etc. são algumas sugestões que garantem às crianças os benefícios e alegrias que a atividade lúdica proporciona e que, ao mesmo tempo, desenvolvem habilidades, atitudes e conceitos referentes à linguagem musical.
 
Organização do espaço
 
      O espaço no qual ocorrerão as atividades de música deve ser dotado de mobiliário que possa ser disposto e reorganizado em função das atividades a serem desenvolvidas.
 
As fontes sonoras
 
      O trabalho com a música deve reunir toda e qualquer fonte sonora: brinquedos, objetos do cotidiano e instrumentos musicais de boa qualidade. Pode-se confeccionar diversos materiais sonoros com as crianças, bem como introduzir brinquedos sonoros populares, instrumentos étnicos etc.
      O trabalho musical a ser desenvolvido nas instituições de educação infantil pode ampliar meios e recursos pela inclusão de materiais simples aproveitados do dia-a-dia ou presentes na cultura da criança. Os brinquedos sonoros e os instrumentos de efeito sonoro são materiais bastante adequados ao trabalho com bebês e crianças pequenas. Os vários tipos, como bongôs, surdos, caixas, pandeiros, tamborins etc., estão muito presentes na música brasileira. Ao experimentar tocar instrumentos como violão, cavaquinho, violino etc., as crianças poderão explorar o aspecto motor, experimentando diferentes gestos e observando os sons resultantes. É aconselhável que se possa contar com um aparelho de som para ouvir música e, também, para gravar e reproduzir a produção musical das crianças.
      Diferentes tipos de sons (curtos, longos, em movimento, repetidos, muito fortes, muito suaves, graves, agudos etc.) podem ser traduzidos corporalmente.
 
Sequência de exercícios de 4 a 6 anos
 
      Mostram que o som pode ser grave ou agudo, forte ou fraco, rápido ou lento. E dá o primeiro passo rumo à escrita musical.
      Quando se pede para a criança de quatro a seis anos desmontar as teclas do xilofone e remontá-las por ordem de tamanho, ela descobrirá que peças de tamanhos diferentes emitem sons variados.
      Provavelmente a diferença entre eles será tratada como o som “grosso” e o som “fino”. Explique a ela que o “grosso” chama-se grave e o “fino”, agudo.
      Preencha três latas de refrigerante iguais, uma com pedras, outra com feijão e outra com arroz. Peça para seus alunos identificarem qual som é mais grave, qual é mais agudo e qual fica na faixa média. Aqui há uma evolução na aprendizagem iniciada com a seriação das notas no xilofone, pois, apesar das latas terem a mesma forma e tamanho, emitem sons diferentes. Peça para a turma colocar a lata com o som mais grave debaixo da mesa, a com o som médio sobre a mesa e a que for mais aguda em cima da cadeira. Em seguida, usando bolinhas de fita crepe, associe cada linha na lousa ao som de uma lata, colocando o som mais grave na linha de baixo, o médio na linha do meio e o agudo na linha alta. Desta forma, eles estarão dando o primeiro passo para entender o que é registro sonoro: a passagem do som para sua forma escrita.
      Use as latinhas para trabalhar outros conceitos importantes na música. Sacudindo uma delas de maneira forte ou fraca, você mostra a diferença de intensidade do som; agitando rápida ou vagarosamente, trabalha-se a noção do andamento. Crianças nesta idade costumam confundir os dois conceitos e uma pulsação rápida tende a ser compreendida como forte. Mostre a eles como um som pode ser fraco (na intensidade) e rápido (no andamento) ou forte e lento. Latinhas na mão, será a vez deles testarem.
 
Observação, registro e avaliação formativa
 
      A avaliação na área de música deve ser contínua, levando em consideração os processos vivenciados pelas crianças, resultado de um trabalho intencional do professor. Deve basear-se na observação cuidadosa do professor. Por meio da voz, do corpo, de instrumentos musicais e objetos sonoros deverão interpretar, improvisar e compor, interessadas, também, pela escuta de diferentes gêneros e estilos musicais e pela confecção de materiais sonoros.
      Uma maneira interessante de propiciar a auto-avaliação das crianças nessa faixa etária é o uso da gravação de suas produções. Ouvindo, as crianças podem perceber detalhes: se cantaram gritando ou não; se o volume dos instrumentos ou objetos sonoros estava adequado; se a história sonorizada ficou interessante; se os sons utilizados aproximaram-se do real etc.
 
Sugestões de obras musicais e discografia
A ARCA DE NOÉ. Discos Marcus Pereira, 1978.
ACERVO FUNARTE, MÚSICA BRASILEIRA. Antonio José Madureira, Selo Eldorado, 1987.
BAILE DO MENINO DEUS. Cantos dos índios Bororo.
CANÇÕES DE BRINCAR. 
CANTO DO POVO DAQUI. Teca-Oficina de Música, SP, 1996.
CARRANCAS. Canções. TV Cultura/SESI, Velas, 1995.
COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO NORTE.
COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO NORDESTE.
COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO CENTRO-OESTE. 
COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO SUDESTE. 
COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO SUL.
Canções. Cantos da Tradição Xavante, Quilombo Música, 1994.
FOR CHILDREN. TODOS OS SONS.
MÚSICA NA ESCOLA.
MÚSICA PARA BEBÊS. Movieplay Brasil, 1994.
NA PANCADA DO GANZÁ. 
O CARNAVAL DOS ANIMAIS. 
VILLA-LOBOS ÀS CRIANÇAS. 
VILLA-LOBOS DAS CRIANÇAS. Espetáculo musical de cantigas infantis, Estúdio Eldorado, 1987.
VILLA-LOBOS PARA CRIANÇAS. httpv://www.youtube.com/watch?v=J1H4WBl1arI httpv://www.youtube.com/watch?v=wrXegPpqdEo
 
BIBLIOGRAFIA
BEAUMONT, Maria Teresa de e FONSECA, Selva Guimarães. O ENSINO DE MÚSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: saberes e práticas escolares. GT: Ensino Fundamental/nº13- 26a Anped.
BELLOCHIO, Claúdia Ribeiro. A Educação Musical no Ensino Fundamental: Refletindo e discutindo práticas nas séries iniciais. UFSM, 23ª Anped, GT Currículo.
BRITO, Teca Alencar. A música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.
DOHME, Vânia. Atividades lúdicas na educação: o caminho de tijolos amarelos do aprendizado. Petrópolis: Vozes, 2004.
 
 
REFERENCIAL CURRICULAR DE EDUCAÇÃO INFANTIL – Volume III

domingo, 9 de setembro de 2012

Livro Arca de Ninguém

Utilizei este vídeo em uma reunião pedagógica, para que as professoras pudessem refletir sobre a importância de buscarmos cultivar uma relação harmoniosa no trabalho, pois afinal de contas, todas estão no mesmo "barco".



 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Roteiro para observação e avaliação na educação infantil

Este roteiro auxilia o professor a voltar o seu olhar para as conquistas e aprendizagens das crianças, porém é importante não limitar o registro avaliativo de cada criança com apenas estas informações. Este roteiro serve para qualquer faixa etária, pois o desenvolvimento acontece de forma parecida no ser humano. Basta observar em que nível as crianças se encontram. Lembrem-se, não há receita, cada criança se desenvolve no seu ritmo, portanto, crianças de uma mesma sala podem ter a mesma idade, mas estarem em níveis diferentes, nos diferentes aspectos.
 
 
1. Aspectos físicos: expressão corporal, harmonia, equilíbrio, ritmo, coordenação, organização espacial ampla, uso e aplicação da força.
- Como chega ao CEI?
- Como se adapta ao ambiente?
- Como brinca?
- Como está se movendo?
- O caminhar é ágil e harmonioso?
- Corridas e saltos são equilibrados ou ocorrem quedas?
- Como recorta?
- Como usa a cola?
- Como pinta?

 
2. Aspectos sociais: interatividade, participação compartilhada, regras, disciplina, organização, trabalho em equipe, responsabilidade.
- Interage com os amigos?
- Empresta brinquedos?
- Respeita regras e combinados?
- Expõe novidades e acontecimentos do seu cotidiano?
- Participa manifestando opiniões pessoais?
- Prefere jogos cooperativos ou competitivos?
- Convive com pessoas do seu meio?
- Tem habilidade em comunicar-se?
- É capaz de controlar sua impulsividade?
- Respeita a vez do outro?
- Participa de atividades em grupos?
- Coopera nas atividades com ideias e sugestões?
- É capaz de liderar positivamente um grupo?
- É capaz de falar com naturalidade perante o grupo?
- Percebe e reage ao emitir uma resposta inadequada?
 
 
3. Aspectos emocionais: experienciar muitos e novos sentimentos, desde a alegria das vitórias e conquistas até o sabor da derrota e da perda, sendo valorizada cada manifestação e expressão dos sentimentos.
- Como chega ao CEI?
- Como se relaciona com colegas, professores e funcionários?
- Sente-se seguro no ambiente escolar?
- Como reage quando contrariado?
- Acalma-se facilmente ou precisa de um tempo?
- Identidade: Reconhece os colegas?
- Identifica pelo nome sua imagem no espelho?
- Gosta dos colegas e os identifica?
- Tem capacidade de resolver conflitos e tomar iniciativas?
- É crítica e criativa?
- Curiosa e inventiva?
- É participativa e cooperativa?
 
 
4. Aspectos cognitivos: linguagem oral e escrita, raciocínio lógico matemático, capacidade de comunicação e argumentação, iniciativa na resolução de problemas e conflitos.
- Tem interesse pela descoberta das letras e escrita de palavras?
- Comunica-se com clareza e objetividade?
- Apresenta sequência lógica dos fatos?
- Consegue observar semelhanças e diferenças entre os objetos?
- Classifica, ordena e quantifica com base em atributos de cor, forma, tamanho e espessura?
- É capaz de reproduzir uma experiência vivida?
- Tem iniciativa para resolver problemas encontrados ou apresentados?
- Domina conceitos básicos de espaço em relação à posição, direção?
- Elabora pequenas histórias, com estrutura e sentido lógico, de uma gravura apresentada?
- Movimenta o corpo com autocontrole?
- Forma frase com estrutura e sentido?
 
 
5. Em relação à musicalização:
- Marca o ritmo com o próprio corpo?
- Descobre sons existentes no ambiente próximo?
- No ambiente distante?
- Canta canções diversas?
- Cria e pratica atividades originais relacionadas aos movimentos corporais?
- Cria sons originais?
- Cria e pratica dramatizações originais?
- Manuseia e toca instrumentos de bandinha?
- É capaz de imitar batidas rítmicas?
- Distingue sons fortes e fracos? Rápidos e lentos? Únicos e coletivos?
- Executa movimentos que exigem atenção e memória (coreografia)?
- Usa expressão facial nas cantigas e dramatizações?
 
 
6. Organização temporal:
- Reconhece noite e dia?
- Conta até 10 ou mais?
- Compreende o começo e o fim de um jogo?
- É capaz de montar uma história em sequência?
- Conta fatos ocorridos de dia e a noite?

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sugestão de roteiro para ser utilizado na aplicação dos Indicadores de Qualidade na Educação Infantil



Esta apresentação de slides foi elaborada para aplicar os Indicadores de Qualidade na Educação Infantil na Instituição em que eu trabalho. Este roteiro teve como objetivo apontar os pontos positivos e negativos que precisam ser revistos, refletidos e melhorados, visando uma qualidade cada vez maior na Educação Infantil. Após, o levantamento dos indicadores, foi elaborado um plano de ação a curto, médio e longo prazo para superar os pontos negativos, transformando-os em positivos e de qualidade.

Fonte utilizada na elaboração da apresentação de slide sobre os Indicadores de Qualidade.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Quando as crianças fazem uau!


Lindas imagens e belíssima música...





Sugestão de filme para reflexão com os professores


Uma lousa de sala de aula preenchida por números e letras misturados e, na frente dela, professoras típicas, anunciando as notas de seus alunos. Aqueles que tiveram bom desempenho ganham um sorriso de satisfação e aquele que sempre vai mal recebe uma expressão de decepção.

 Assim inicia-se o filme que nos mostra, através da história de um menino com dislexia, o sofrimento pelo qual uma criança em idade escolar pode passar, cercada de pessoas incapazes de entender o que se passa com um outro, especialmente quando este é uma criança.


"Como Estrelas na Terra” é dirigido pelo, até então, ator e produtor Aamir Khan, que impressiona pela qualidade, criticidade e sensibilidade do filme, no qual atua como o professor substituto Ram Shankar Nikumb. Embora a história seja focada em uma criança em especial, o filme mostra as negligências, falta de cuidado e de atenção com a maioria das crianças. Em especial, mostra o real papel do educador para a formação de um novo ser. Diferente da maior parte do cinema indiano, as músicas neste filme não são apenas para promoção do mesmo, mas uma parte importante da construção deste, sendo inseridas na historia quase como nos dizendo o que as situações representam, sem as cenas de dança típicas do cinema bollywoodiano - nome dado à indústria de cinema hindi, a maior indústria de cinema indiana, em termos de lucros e popularidade, cujo nome se deve à fusão de Bombaim (antigo nome de Mumbai, onde se localiza a indústria) e Hollywood (indústria cinematográfica americana).

Sendo diferente de todas as outras pessoas, o menino Ishaan – protagonista do filme - sempre arranja confusão, mas por não estar dentro do mundo deles, consegue enxergar coisas que os outros deixam passar despercebidas.


A primeira música do filme nos mostra exatamente isso, ao criticar o ritmo de vida pré-moldado e frenético da família de Ishaan - que enfrenta diariamente uma “luta maluca para chegar a um destino”. Em oposição a isso, as crianças “não são escravas do tempo, são livres, tem reuniões com as borboletas e debates com as árvores.” Mas não é isso o que a sociedade espera delas, como vemos com a mãe do menino, que, mecanicamente, assume o papel de tirá-lo desse estado, procurando adaptá-lo para a vida no mundo dito real, o do trabalho, com horários marcados.

Na escola, vemos a religião impondo regras e organização utópicas, sem levar em consideração as crianças, que não escutam, muito menos entendem, o que lhes dizem. No mesmo cenário, surge a professora enérgica que grita, impaciente, com os alunos que ela não enxerga. Ao ser ordenado a ler um texto, Ishaan responde que “As letras estão dançando”, e a professora acha que o aluno zomba dela. Tendo sua dificuldade ignorada, o garoto fica nervoso (como era de se esperar) e utiliza-se de ‘mal-comportamento’ para sair da situação. Não importa muito aqui o motivo pelo qual os professores fazem isso, mas sim o que acabam fazendo às crianças, que sempre pagam pela ignorância dos outros. Todos os outros alunos zombam de Ishaan, acabando por humilhá-lo, e, triste, o menino foge da escola à procura de liberdade, o que não encontraria naquele lugar. A música que se segue explicita o pensamento do menino: “Existem outros como eu? Não estou sozinho sonhando acordado, de olhos abertos?”

Para os pais, Ishaan é preguiçoso, desatento. O pai é agressivo, não percebe que ele é apenas uma criança e o quanto pode ser assustador para ele. Ambos os pais deveriam apoiar o menino, mas ficam nervosos, xingam, batem – não conseguem ver com os olhos do filho, apenas através dos seus.

Logo, Ishaan deverá mudar-se de escola, pois suas professoras dizem que ele não progride, erra de propósito e não se interessa pelas aulas. Mas a culpa é dele ou as aulas eram desinteressantes? Quem deveria fazê-lo se interessar e ajudá-lo a progredir?


Frente ao “fracasso” do filho, os pais só conseguem pensar em si mesmos: o pai sente-se insultado por ter um filho chamado de retardado e a mãe, por sua vez, sente-se culpada, questionando-se sobre onde teria errado. Nenhum dos dois pensa em como o menino está se sentindo e o punem (colocando realmente a culpa pelo fracasso em Ishaan), mandando-o a um colégio interno, com o qual o menino tem pesadelos e implora para não ir. Ainda assim, ele não tem chances, pois está sozinho – sem alguém que possa entendê-lo.

As cenas em que Ishaan é deixado no colégio interno, ao som da música ‘Maa’, que significa mãe – uma das mais belas do filme –, mostram a dor e desencantamento do menino, ao se ver abandonado. “Sou tão ruim assim, mãe?”, ouvimos na canção que mostra os sentimentos de culpa e sofrimento pelos quais toda criança passa ao ser castigada por aqueles que mais ama. Toda criança passa por isso, ao apanhar dos pais – ou mesmo brigar com eles – e logo em seguida ser impulsionado a chorar no colo deles, afinal de contas não há a quem mais recorrer.


O filme também destrói a crença de que a mãe sabe o que é melhor para o filho, mostrando que apenas o sentimento que se tem por este não é suficiente. Para criar uma criança do melhor modo é preciso ter conhecimento sobre o mundo, saber entender o outro e poder ajudar quando preciso, sabendo identificar necessidades e enxergar oportunidades. No colégio interno, a regra é disciplina. As crianças se adaptam ao sistema e apenas reproduzem o que lhes é dito, assim agradando aos ‘mestres’. “Lembre-se do que ele diz e imite-o”, sugere um colega de Ishaan, demonstrando o método com o qual é possível sobreviver ali (cenário idêntico às escolas tradicionais daqui – Brasil).

Ao longo dos dias, Ishaan ouve de todos ao seu redor (pai, mãe, professores, etc) a mesma opinião, de que é preguiçoso, desatento, incompetente... Ninguém busca compreender os motivos de seu comportamento, mas todos o julgam. “Por que você não consegue?”, berram os professores na música que se segue, onde vemos o desespero de Ishaan, que não consegue se adaptar ao sistema insano de obediência e repetição. Impossível não lembrar de “Another Brick In The Wall”, pelo tom agressivo com que as críticas à educação são feitas, com a diferença que, no filme em questão, os professores são quem têm a palavra, demonstrando toda a sua prepotência e arrogância frente ao papel de professores.


Longe da família e ridicularizado no novo ambiente, Ishaan torna-se apático, vazio. A vivacidade, alegria e curiosidade que o levavam a produzir ricos desenhos e pinturas, agora são substituídos pela tristeza do abandono, pela decepção, em especial com a atitude da mãe, pela repressão e autoritarismo que agora lhe são contínuos, sem ter para onde fugir.

Anestesiado, o menino parece entrar em um ciclo autodestrutivo – não estando descartadas as possibilidades de suicídio ou abandono social – e não se dá conta de que poderia obter ajuda do novo professor que se apresentava de modo diferente, dizendo aos alunos que a partir de então, em sua aula, estavam livres.

 
Este professor, Ram Shankar Nikumb, vindo de uma escola de crianças especiais, tem uma outra visão do ensino, que olha para o aluno e atende às suas necessidades, bem como abre novos caminhos. Os outros professores dizem-lhe, por sua vez, que seus métodos não funcionariam ali, onde as crianças eram preparadas para a “batalha da vida”. “Crianças têm de competir, fazer sucesso, vencer”, diz um dos professores, que deveria ser um profissional apto a lidar com as diferenças e mostrar que as coisas mais importantes não consegue-se passando por cima de ninguém, mas se obtém da própria vida. Mas ainda são poucos os professores que realmente sabem o valor e importância de sua profissão. Assume-se simplesmente o papel de adaptar as crianças ao mundo competitivo e alienante do trabalho – e achando que com isso estão contribuindo suficientemente para a formação dessas pessoas.

Ram, diferente dos outros, olha para Ishaan e vê o que ninguém percebia, que “seus olhos berram por socorro”, e seu papel é ajudar o menino. Mas não é precipitado, antes busca analisar os cadernos, conversar com o único amigo de Ishaan e, inevitavelmente, procurar a família – essencialmente, busca entender quem é aquela criança. Ao som da música que dá título ao filme, vemos o professor Ram Nikumbh em contato com as crianças especiais e, em seguida, indo conversar com os pais de Ishaan. Antes de mostrar o papel do educador, o filme ensina, mais do que isso, o significado e as implicações de se ter um filho. O professor interpela os pais de Ishaan sobre as dificuldades do garoto, que para eles são apenas erros e indisciplina, e tenta mostrar-lhes que Ishaan não faz nada daquilo por ser preguiçoso ou burro, mas por ter dificuldade em entender as palavras e seus significados. O mal comportamento de Ishaan, explica aos pais, vem da dificuldade de admitir suas incapacidades: é mais fácil dizer “não quero”, ao invés de admitir que não consegue.


O professor, então, depara-se com a dura realidade de que os pais não se importam que o filho esteja bem, mas que seja bem-sucedido perante os outros. “Como ele vai competir? Terei de alimentá-lo a vida toda?” questiona o pai, mostrando sua real preocupação com a própria imagem e desejo, desconsiderando as dificuldades, bem como o bem-estar do filho. “Nessa corrida desesperada, alimentam cavalos de corrida, não crianças”, indigna-se Ram, completando que forçar crianças a carregar o fardo das ambições de seus pais é pior do que trabalho infantil.

 
Então que, compreendendo o ambiente onde viveu Ishaan e percebendo características de dislexia nos materiais e comportamento do aluno, o professor parte para sua missão de resgatar o garoto para a vida, despertando-lhe o interesse pelo estudo e mostrando-lhe que ele não está sozinho.

Após Ishaan estar alcançando progressos em relação aos estudos, graças à compreensão do professor, o pai do menino vai ao colégio dizer a Ram que andaram pesquisando sobre dislexia, para que ele não ache que sua família não se importa com Ishaan. Neste momento marcante, o professor diz o que é importar-se e como isso é essencial para uma criança. Dar suporte, apoiar, encorajar, oferecer ajuda e carinho são coisas indispensáveis. É isso o que uma criança precisa dos pais, mas, na grande maioria das vezes, estes são muito mais eficazes em desencorajá-las e lhes fazer achar que são ruins, que são o problema. Isto foi o que fizeram também os pais de Ishaan – apontado por Ram. “Que bom que vocês acham que se importam”, conclui o professor, demonstrando que não concorda com o modo como os pais agiram com Ishaan, fazendo o pai perceber o quão responsável pelo sofrimento do filho ele era.


É importante deixar claro que não é o diagnóstico de dislexia que desperta Ishaan, mas a grande oportunidade do garoto surge da compreensão, identificação e ajuda que lhe oferece o educador. Partindo do olhar da criança, e entendendo seu mundo, fica fácil abrir portas para a aprendizagem, utilizando métodos e recursos apropriados e interessantes. Ram teve a capacidade de colocar-se no lugar de seu aluno e, partindo de seu mundo, apresentá-lo aos conhecimentos que o menino tanto ansiava por construir, mas não tinha oportunidade ou auxílio.


Aí vemos a diferença de um professor – educador – que se compromete com o aluno, não com os conteúdos. Em contato com outros professores, iguais aos tantos outros das escolas que frequentou, ou outros profissionais que poderiam lhe sugerir que tomasse remédios que apenas o adaptariam e entorpeceriam, o diagnóstico de dislexia pouco favoreceria Ishaan.

Fracassada é a forma de ensinar que vemos incansavelmente no inicio do filme e por diversas vezes em nossas vidas, com a separação dos conhecimentos, descontextualização dos conteúdos com a vida das crianças e a obediência em oposição à reflexão e criticidade. A diferença está no modo como as dificuldades são observadas e trabalhadas, respeitando-se o ser humano por trás dos rótulos, observando suas potencialidades e dando importância ao que realmente fará a diferença na vida dessas crianças: o conhecimento.

Diga-se de passagem que erros ou trocas grafêmicas (troca de letras semelhantes) e espelhamentos de letras são naturais quando as crianças entram no processo de alfabetização, e não indicam necessariamente que a criança seja disléxica.

Ao final do filme, vemos os professores e pais de Ishaan reconhecendo suas limitações, se humanizando e percebendo os outros – cena difícil de ser vista na vida real. Temos realmente um final feliz – que não cabe aqui exprimir em palavras. Mas junto com os créditos, vemos que o final feliz é apenas na ficção, talvez apenas para algumas poucas crianças da vida real, pois surgem na tela imagens de crianças reais, malcuidadas, maltratadas, exploradas, que, ainda assim, sorriem e não deixam de ser crianças, ávidas por conhecimentos.


O filme como um todo nos apresenta uma ficção que não tem nada de irreal – é a história da vida de incontáveis crianças e adultos. Quiséramos nós que tudo isso fosse apenas mais uma história de ficção.




Quem ficou interessado e curioso em assistir esta obra prima do cinema, segue abaixo o link do you tube, com o filme legendado completo.

http://www.youtube.com/watch?v=Xvbs8sLQWQ8

Proposta de interações e brincadeiras: Caça ao tesouro sensorial

Campos de experiências: * Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: * Classi...